Denise Araripe
Mauro Trindade
Força na Peruca
Denise Araripe convoca a história da Arte de forma mais irônica e incisiva. Sob as aparentes camadas de referências do universo pop que povoam suas telas de grandes formatos, realiza misturas — mashup, no jargão contemporâneo — que colapsam seus sentidos originais em um novo contexto crítico. Em seu trabalho, texto e imagem se equivalem e sua tela adquire valor digital, na qual ambos tornam-se
ícones, interfaces visuais de uma lógica randômica que implode qualquer tentativa de historicidade sobre uma tábula rasa sem passado ou futuro. Araripe estimula o vazio conceitual com telas de fundo negro, metáfora do espaço digital onde tudo se equivale ao limite do bit. Para acentuar esse impacto, os bastões de óleo usados na pintura sobre o fundo escuro criam um efeito tridimensional se vistos com óculos 3D. A pintura de Denise Araripe consegue dialogar tanto com o cinema e a internet quanto com a tradição pictórica mais remota e, dessa forma, alcança espectadores de diferentes universos culturais, em um trabalho que se aproxima da lógica da Comunicação. A pintora costuma dizer que a obra não está em suas telas, mas em algum ponto virtual entre objeto e espectador.
Por isso mesmo sua The wig game é um jogo da peruca e a grande tela — na verdade, quatro delas, o que explica o tamanho do trabalho — é transformada em um enorme tabuleiro, no qual os espectadores-participantes percorrem um sinuoso caminho até chegar à vitória. Personagens do mundo real, da literatura e dos quadrinhos, como Freud, Einstein, Picasso, Andy Warhol, o Ênio dos Muppets e seu patinho de borracha e até o Abaporu de Tarsila do Amaral, “comentam” o jogo que termina com o vencedor vestindo uma cabeça de isopor com uma peruca.
Denise Araripe summons Art history in a more ironic and incisive way. Under the apparent layers of references of pop universe that fill her big size canvas, she mixtures—mashup, in contemporary slang—where the original senses collapse in a new critical context. In her work, text and image are equivalent and her canvas acquire a digital value, where both become icons, visual interfaces in a random logic that implodes any attempt of historicity over the same blank slate without a past nor future. Araripe emphasizes that conceptual emptiness with black backgrounds in her canvas, a metaphor for the digital space where everything reduces to the limit of the bit. To accentuate that impact, the oil sticks used in the painting with a dark background create a tridimensional effect if they are seen with 3D glasses. The painting of Denise Araripe is able to dialogue with the cinema and the internet, and at the same time, with the most remote pictorial tradition and, this way, it reaches spectators from different cultural universes, in a work that approximates to the Communication logic. She uses to say that her work is not in her canvas, but in some virtual point between the object and the spectator.
For this reason, her “The wig game” is a game between the wig and the big canvas—in truth, four of them, which explains the size of the work—, transforms into an enormous board, in which the spectators-participants follow a sinuous path up to victory. Real world characters and others from literature and comics, such as Freud, Einstein, Picasso, Andy Warhol, or Ernie and his rubber duck from the Muppets or Tarsila de Amaral’s “Abaporu”, “comment” on the game until it finishes with one of the participants dressed up with an Styrofoam head with a wig.