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Isabel Portella

É na contemplação que a obra acontece 
 
Eu chamo para a contemplação!!! Convido a observarem, aqui, agora, outra vez! Não é a pintura de algo, mas uma intensificação daquilo que o objeto produz em mim. Então venham ver! Procurem em cada tela o que emociona, o que fala mais fundo à sua memória afetiva. Será que para ter valor, como arte, uma obra precisa apenas ser exibida em uma galeria, ser avaliada por escrito e fotografada para uma revista de arte? A nova função da arte é grudar na parede e ir aumentando de preço? Coloque sua moeda e tente a sorte! Como explicar o mundo da arte? Até mesmo um coelho morto é mais intuitivo do que algumas pessoas... 
Referência da cultura pop, ou dos mash up da atualidade, a artista Denise Araripe, nessa nova série de obras, convida o observador de suas telas a uma maior fruição ao vivo. Pede que cada um se detenha um pouco mais, procurando as várias camadas de significados ali apresentados. Incentiva à reflexão sobre as diversas relações estabelecidas entre textos e imagens. “Little Boy”, a bomba atômica lançada sobre o Japão, faz pensar sobre o fanatismo pop-cult japonês e a infantilização como resposta de uma população traumatizada com a Guerra; “How to accept a pig as a work of art” remete ao porco empalhado de Nelson Leirner e às discussões sobre arte contemporânea; “Yellow Submarine” associa as imagens do icônico sucesso dos Beatles às figuras de Pablo Picasso para “Guernica” e nos diz que os outros não importam –“And the others we don´t care”. 
 São várias as questões propostas pela artista e todas elas trazem seu olhar crítico sobre essa relação tão intensa entre autor, obra e público. Entre a ideia inicial geradora da obra, sua realização e a apreciação do público existe um longo caminho a ser percorrido. Interferem, sem cessar, as referências de cada indivíduo, a bagagem 
cultural e emocional de cada um que irá contribuir para a construção da obra. E, sem dúvida alguma, “é na contemplação que a obra acontece”!  
O tempo agora é de imediatismo, de olhares rápidos e de irreverência. Como o coelho de Alice no País das Maravilhas que está sempre correndo com seu relógio, também o público passa olhos apressados sobre a arte. Warhol nos fala dos quinze minutos de fama. É nesse tempo de urgências que Denise Araripe, com criatividade, técnica apurada e conhecimento do Mundo da Arte, vem chamar para a contemplação! Vem propor uma reflexão sobre os vários momentos marcantes da época atual. Takashi Murakami, Kusama, Lichtenstein, Warhol, Beuys, Picasso, Nelson Leirner dialogam com os Beatles, Little Dot, Pato Donald, Mickey e outras figuras da cultura popular. Apropriar-se da atualidade, de imagens da cultura de massa e trazer tudo isso para as telas utilizando-se de tintas acrílicas, bastões a óleo e folhas de ouro, Denise faz com perfeição.  A artista nos oferece a oportunidade rara de observar, em suas telas, um conteúdo mais profundo, que vai alem da simples imagem do primeiro olhar. Delicadamente chama a atenção para a necessidade de um contato direto e subjetivo com a obra de arte, já que o mundo atual está cada vez mais intermediado. 
 
Isabel Portella 
 Crítica e curadora de arte

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